sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Um dia frio, uma reflexão

O relógio marca 10 graus agora. Está frio. Acabei de voltar da rua. Sai para tomar sopa com minha irmã. E, de repente, começo a pensar na vida...
A vida passa muito rápido. Tenho pensado muito nisso. Estou quase chegando aos 30. Tenho feito diariamente um balanço do que eu sou e do que eu tenho feito por mim e pelos outros. Às vezes tenho a sensação de que não fiz nada muito relevante. Queria fazer mais, muito mais. Não quero, necessariamente, ganhar muito dinheiro. Não acho que isso seja um grande projeto de vida (ainda que isso, em si, não seja ruim). A vida não consiste somente em acumular bens. É muito, muito pouco.
Quantos dias ainda temos? Essa é uma questão que diversas vezes vem a minha mente. E acho até um pouco estranha essa preocupação em demasia, pois, como se diz, esse pensamento é típico de quem já tem uma idade mais avançada. Mas comigo parece ser diferente. Muitas vezes me sinto muito egoísta. Quero fazer mais pelos outros.
Tenho pedido a Deus sabedoria, bom senso, para que eu saiba usar bem meu tempo. A vida é uma dádiva. Mas muitas vezes não nos damos conta disso. Vivemos de um jeito estranho. Focados em nós mesmos e deixarmos escapar belos momentos com outras pessoas, com Deus e com a criação Dele.
Tenho tentado valorizar mais as "pequenas" coisas. Às vezes, me pego pensando quão bom é poder enxergar, ouvir, falar, sentir, tatear... Quão bom é poder ver o sol mostrar seus primeiros raios e depois se deitar no horizonte. Como é bom sentir a chuva descendo pelo rosto. Como é bom poder olhar e receber um belo sorriso. Como é bom receber e poder dar um abraço. Como é bom correr de manhã bem cedo ou no fim da tarde e sentir o vento bater no rosto. Como é bom pedalar nas estradas e sentir o prazer de avançar rumo ao desconhecido. Como é bom poder viajar e conhecer belos lugares e gente diferente. Como é bom amar se ser amado. Como é bom ouvir "Deus te abençoe", "tenha um bom dia". Como é bom oferecer um ombro pra um amigo(a). Como é bom ouvir "você é uma pessoa muita querida". Como é bom tomar um bom vinho. Como é maravilhoso ouvir e tocar uma boa música. Como é bom ouvir o canto dos pássaros. Como é bom sonhar, sempre acreditar. Como é bom o reencontro. Como é bom beijar e ficar extasiado de prazer. Como é bom dobrar os jelhos e falar com Deus e perceber que Ele está ali, ainda que não o vejamos.
Ultimamente tenho estado muito nostálgico. Tenho lembrado muito dos meus tempos de escola. De quando queria logo ser adulto. De quando tudo ainda era uma longa estrada a percorrer. Quando tudo parecia muito incerto. Quando era muito ingênuo. Quando eu vestia com orgulho meu uniforme do saudoso Pedro II. Aquele tempo foi muito bom! Tempo de muitas histórias. Olho para trás e vejo superação, vejo dor, vejo uma mãe que lutou e um pai que bem que podia ter sido pai. Vejo um avô que era um bom exemplo. Vejo uma avó que ainda está aí e que é uma pessoa que, de certa forma, chega a impressionar... Vejo minha mãe, aos 44, dando à luz minha irmã, em um parto normal, em um dia frio e chuvoso. Vejo-me chegando a idade adulta mais cedo pra mim. Eu tinha 11, mas pensava como alguém de 25 ou 30 talvez (e tinha que ser assim...). Lembro das expectativas. Expectativas de passar no concurso do Pedro II (5h e lá estava minha mãe na frente da banca de jornal - nem sei se o jornaleiro já tinha chegado...rs). Expectativa de jogar vôlei na equipe do Fluminese (que se cumpriu). Expectativa do primeiro beijo (que até hoje me lembro bem...). Expectativa do vestibular. Lembro do dia em que fui ver se meu nome estava na lista. Cheguei apreensivo. Olhei e meu nome estava lá. Foi incrível! Expectativa do primeiro emprego. Expectativa da vaga de estágio na Iniciação Científica. Expectativa da primeira aula (mesmo que ainda estivesse no terceiro período da faculdade). Expectativa da nota da monografia (e eis que recebo um belo 10!!). Expectativa de conseguir a única vaga para substituto no CAp UFRJ. Parecia impossível, mas a vaga ficou pra mim! Expectativa da EsAEx. Também parecia quase impossível. Mas tudo contribui pra que desse certo. Tudo! A sensação que tenho é que Deus desenhou cada instante de uma forma totalmente mágica. Cada detalhe com muito cuidado, com muito amor. Expectativas. Sempre foram muitas para quem a vida nunca foi fácil.
Quando olho para trás vejo que minha vida tomou um rumo radicalmente diferente desde 1998. Fui até a igreja para ver se conseguia uma namorada. E mal eu sabia que eu teria meu coração conquistado por um amor muito maior. Foi quando eu conheci a mensagem de Jesus Cristo. Inigualável! De lá pra cá, muita coisa mudou. Não me tornei perfeito, mas me tornei filho. Filho adotado pela graça de Deus. Desde então, em alguns momentos, fui legalista. Em outros, liberal até demais. Ainda assim, desde 1998 minha visão de mundo mudou sensivelmente. E atesto que, por tudo que eu já vivi, para melhor. Não fiquei fiquei rico. Não comprei uma casa no litoral. Não tenho (pelo menos ainda...rs) a esposa que eu tenho pedido a Deus. Entretanto, sinto que minha vida tem sentido. Sei para onde estou indo. Sei que a vida não é simplesmente uma sucessão, um somatório de fatos. Eu entendo (ou pelo menos para mim) que a vida é uma oportunidade de servir aos outros, de dar muitas alegrias a Deus e de experimentar a alegria que só Ele pode nos conceder.
Quando olho para trás vejo belos amigos e pessoas que simplesmente passaram pela minha vida. Bem que gostaria de escrever muito sobre essas pessoas. Seria muito agradável fazer a mente viajar no tempo e no espaço e redesenhar cada detalhe, cada sensação, cada cheiro, cada toque, cada momento. Pessoas que se foram e que nunca mais vi. Pessoas belas e outras nem tanto. Pessoas que tocaram meu coração. Outras que quase me destruíram. Pessoas muito bem humoradas. Outras nem tanto. Pessoas que confiaram em mim. Pessoas que cancelaram alguns dos meus projetos de vida. Pessoas que me surpreenderam. Pessoas que me ajudaram com uma palavra e também com dinheiro. Pessoas que me ensinaram. Pessoas que me amaram.
Se eu pudesse voltar no tempo, eu tentaria acertar algumas coisas. Tentaria, por exemplo, provocar mais sorrisos nos rostos de quem passou pela minha vida. Tentaria prestar mais atenção nos que me cercaram. Teria conversado mais com a minha mãe. Teria dado mais abraços e beijos. Teria ajudado mais pessoas a atravessar a rua. Teria reclamado bem menos. Teria passado mais tempo orando. Teria passado mais tempo dançando. Teria ficado mais tempo na beira da praia contemplando as ondas e as belas mulheres desfilando... Mas será que teria sido possível ter tido tempo para tudo isso (e muito mais)?
Quero acertar mais. Quero ser melhor. Sou grato a Deus por tudo e por todos que passaram na minha vida. Sou grato pela minha irmã que tem sido minha companhia nesses tempos. Sou grato a Deus pelo cuidado e bondade que Ele tem dispensado a mim. Talvez um dia eu escreva ainda muito mais sobre meu passado. Gosto das reminiscências. Gosto de lembrar. Mas gosto também de sonhar alto. Não sei quantos desses sonhos vou realizar. Só espero poder olhar para trás um dia e ter uma sensação de realização (ainda que não seja plena, mas que seja, que exista). Sensação de que abençoei muitas vidas, de que fui útil para muita gente. Sensação de que consertei meus erros nos corações alheios e que mágoas não ficaram. Sensação de que dei tantas gargalhadas quantas deveria ter dado, mas de que soube ser bastante sério e firme sempre que foi necessário. Sensação que não fui tão mal exemplo assim. Sensação de que pelo menos fui aprovado, nem que seja na média, raspando, mas passei.
Se isso tudo não for romântico demais, muito exagerado e utópico, que assim seja.

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